13.12.17

Entrevista para o BDG (Descubra sua Música)

O tecladista da Caravela Escarlate, Ronaldo Rodrigues, concedeu uma entrevista à Aline Cortez, do site BDG - Descubra Sua Música (www.bdg.uol.com.br), contando um pouco da trajetória da banda e detalhes do lançamento do novo álbum.

A entrevista foi feita em vídeo, mas editada para uma versão mais curta, e pode ser vista aqui:



A entrevista também foi feita por escrito e a íntegra desta segue abaixo:


BDG: Como surgiu o projeto de fazer som progressivo e como foi sua entrada na Caravela Escarlate?

Ronaldo: Eu havia me mudado pro Rio em 2009 e em 2010 estava procurando músicos pra fazer uma banda de som progressivo. Um dia, o Claudio Fonzi da Renaissance Discos me contou que tinha encontrado um cara, que há muito ele não via, e que estava retomando a banda prog que ele tinha e achou que poderia ser uma boa eu conhecê-lo. Ele fez a ponte e me apresentou ao David. O David me mostrou as composições que ele tinha e eu achei tudo aquilo muito bom, que eu poderia dar uma boa contribuição, com as minhas ideias. Ele queria fazer um trio sem guitarrista fixo, a ideia me pareceu muito atraente e a a gente trabalha música juntos desde então. O David já tinha a Caravela Escarlate desde muito tempo, mas a banda estava desativada. Após esse encontro, foi como se tivesse surgido uma nova encarnação, digamos assim.

BDG: Quais são as principais influências do progressivo nacional no som da Caravela Escarlate? Acho legal a gente falar do progressivo nacional, que tem tantas bandas expressivas, mas que muitas vezes fica esquecido do público.

Ronaldo: Essa pergunta é bem interessante porque nós três, eu, David e Elcio, temos uma grande relação com o prog brasileiro e a mpb que tangencia o estilo. O David é um grande entusiasta do progressivo brasileiro, venera coisas como O Terço, Terreno Baldio, A Barca do Sol, Som Nosso de Cada Dia e toda a turma do Clube da Esquina; eu sou maluco pelo Veludo, Módulo 1000 e Moto Perpétuo (além dessas outras citadas) e o Elcio já tocou com o Flavio Venturini e o Boca Livre. Também gostamos muito do Azymuth e do 14Bis e muita coisa de mpb e jazz brasileiro.

BDG: Há mudanças importantes nesse novo disco em relação ao anterior. O anterior foi um duo instrumental, enquanto o atual conta com baterista e canções cantadas. A que se deve essa mudança de direcionamento?

Ronaldo: Na verdade, nosso primeiro álbum, o Rascunho, é que foi algo diferente do que a gente já fazia. Aconteceu que a gente já tinha tentado gravar essas músicas do novo álbum várias vezes e sempre dava algum galho, saca? tivemos muitas mudanças de formação, com diferentes bateristas, de 2011 pra cá. E isso atrapalhou muito o registro desse material. No fim de 2015 a gente decidiu dar uma guinada e fazer algo que nos tirasse da estaca zero. Daí juntamos as composições que conseguiríamos fazer sem bateria e com os recursos de estúdio que tínhamos a mão no momento e trabalhamos o material do primeiro disco. Mas paralelamente às gravações, o Elcio já tinha ingressado na banda e já ensaiávamos com ele as músicas que tínhamos como trio. Inclusive já até tocamos músicas do primeiro álbum rearranjadas com bateria. Em suma, foi como se a gente tivesse dado o segundo passo antes do primeiro. Mas foi ótimo ter feito assim, porque oxigenou a banda, nos deu perspectiva para prosseguir e nos aprimorar em todos os sentidos.

BDG: O que mudou no processo de composição com esse novo formato?

Ronaldo: Nós somos bastante ecléticos e essa coisa dos violões, do aspecto mais folk, sempre rondou entre nós. Então, no fim, são faces da mesma moeda. O Emerson Lake and Palmer, por exemplo, tem toda aquela eletricidade, aquela parafernália, mas no meio daquilo tudo tinha o Greg Lake com suas baladas acústicas. Então, creio que não haja grandes mudanças no processo de composição, e sim só uma abordagem um pouco diferente. Se no primeiro disco, tudo soa meio reflexivo, no segundo buscamos dar uma pegada mais intensa à tudo. Na parte dos teclados, por exemplo, eu explorei uma variedade bem maior de sonoridades, porque tinha mais a ver com essa intenção, essa energia. 

BDG: Como se dá a transposição do som do disco para o ao vivo? Vocês se preocupam em soar o mais parecido com o disco ou há espaço para a improvisação?

Ronado: A gente buscou trazer pro disco o melhor dos dois mundos - no palco, é aquela coisa da garra, da energia e no estúdio, aquele lance mais pensado, mais apurado e tal. As bases todas do nosso disco foram gravadas ao vivo no estúdio, os três tocando juntos. Aí depois entrou o trabalho mais artesanal, incluindo efeitos e detalhes de arranjos de guitarras e violões, coisas que normalmente não conseguimos fazer em um formação de trio no palco. Acho que o resultado reflete isso - é fiel ao que fazemos no palco, mas tem riqueza de arranjos e uma variedade maior de sons propiciada pelo trabalho em estúdio. 

BDG: Vocês pretendem lançar mídia física? Como você enxerga o impacto da popularização das mídias digitais para as bandas independentes?

Ronaldo: Sim, lançamos o material em CD. Eu e o David principalmente somos colecionadores de discos (CDs e LPs), então é natural que a gente valorize muito o formato físico. Mas o disco também sairá por streaming e estará nas plataformas digitais (o BDG incluso, claro!). Olha, sobre o impacto, é complicado dizer...tudo isso foi "vendido" para os músicos como uma possibilidade maior de independência, de projeção e tal, mas na prática o que a gente vê é uma concentração muito grande. Li uma matéria recentemente que comparava quantos artistas chegaram ao número 1 das paradas na década de 1980 e quantos chegaram nos anos mais recentes. Antigamente, 30, 40 artistas diferentes emplacavam músicas por ano em nível mundial. Hoje são 5, 6. Antigamente era difícil chegar nas gravadoras, mas quando chegava, elas traziam a estrutura de investimento e distribuição tão necessárias pro artista ter sua obra conhecida. Hoje não existe mais gravadora e tudo o que elas faziam, ainda que sob práticas muito condenáveis, desmoronou. A indústria fonográfica se desarticulou de tal forma que hoje eu questiono até mesmo se música vai existir como uma profissão daqui alguns anos ou não. Talvez seja uma coisa que vire só um ofício, uma coisa a se fazer eventualmente, conciliada com outros trabalhos formais, como é o meu caso e o de muitos outros músicos. Mas há um lado muito interessante, que é o de saber quem te ouve, lidar diretamente com teu ouvinte, teu fã, de um cara que tá lá longe em outro país e que dificilmente vai te ver ao vivo. Isso é um ganho inquestionável das mídias digitais - as distâncias entre quem produz e quem consome o conteúdo diminuiram.

BDG: Quais são os desafios de tocar progressivo hoje no Brasil?


Ronaldo: Um rol gigante de desafios e que são os mesmos, independentemente de estilo, para quem faz uma música um pouco mais densa e trabalhada. A gente vive num país que tem um custo de vida altíssimo, estamos numa crise econômica braba há tempos e consumir música deixou de ser uma coisa razoável pra muita gente no meio de tantas opções de entretenimento. Só por aí a gente já pode pintar um quadro sombrio, né?! Por outro lado, quem faz esse tipo de música é muito tenaz, por natureza. A mesma persistência que temos para poder trabalhar músicas complexas, estudar arranjos e tudo mais é a que temos também pra tentar se auto-produzir, organizar os próprios shows, cuidar da arte gráfica, dos releases, da comunicação. É uma coisa meio "exército de um homem só". É tudo tão difícil e trabalhoso que qualquer mínimo resultado positivo é muito comemorado. A escassez tem lá a sua beleza, saca?


BDG: Qual é a programação de vocês para a divulgação desse novo disco?



Ronaldo: Estamos planejando um show de lançamento aqui no Rio pro começo do ano e queremos assim de todo o coração conseguir tocar fora do Rio, fazer um pouco de nome em outros locais. O disco com certeza nos ajudará nisso. Temos tido grandes amigos e parceiros nos ajudando em seus sites, webradios, blogs e etc. Uma coisa que tá faltando nos shows de rock é o velho ajudar o novo, ou melhor dizendo, quem tem nome dar um pouco de luz a quem não tem nome, em prol do estilo. Poucos shows internacionais ou nacionais de peso tem tido show de abertura, os festivais só tem pegado a coisa pronta. Se não houver algum fomento para quem está nadando contra a corrente, o estilo definha. Fora isso, nossa programação diária é trabalho de formiguinha - temos buscado incessantemente contatos no exterior para resenhas ou a distribuição do disco. 



BDG: Últimas palavras!



Ronaldo: Quero agradecer o espaço ofertado pelo BDG, que é uma plataforma incrível para quem quer conhecer música nova e boa! E também agradecer a quem tem prestigiado nosso trabalho. Fazemos música do coração e da mente e é muito bom ver gente que se comunica com a nossa proposta e tem soprado ventos para que o nosso barco prossiga. Quem quiser adquirir o disco pode entrar em contato conosco através do nosso blog ou email.



Nenhum comentário:

Postar um comentário